CNPq declara a morte do Rio Acre



A receita ensinada pelas alunas Sherida Camila, 08 anos e Iasmim Junior, 10 anos, no movimento sindical que chamou a atenção da sociedade para a preservação de nossas nascentes, realizado hoje (22) pela manhã, no Terminal Urbano da Cidade, mostra que entre teoria e prática, quando o assunto é preservação de nascentes, há um grande vazio.

rio_morte_in22A poucos metros do manifesto, quem descia pelas ruelas às margens do Rio Acre, observava que meio ambiente parece ser um termo genérico da cartilha de florestania.

Os efeitos desastrosos sobre o equilíbrio ecológico atingindo o próprio homem estão expostos de forma clara no centro de Rio Branco. O rio Acre, que nasce no Peru e desemboca no rio Purus no Estado do Amazonas, continua sendo a cada segundo, inundado por 886.000 m³ de sujeiras vindas de igarapés e do grande esgoto a céu aberto que corta uma das obras mais vultuosas da capital: o Canal da Maternidade.

Os dados são de estudos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) realizado em parceria com a Universidade Federal do Acre, que revelam ainda, que em 1980, o volume de água que escoria pelo rio Acre era de 9000 m³ por segundo, agora ele está em 4000 m³ e continua diminuindo.

Se levarmos em consideração que em 1980, segundo dados do IBGE, a população de Rio Branco era de 140.000 habitantes e hoje ela está na casa dos 300.000, a situação é vexatória. O professor e geógrafo Claudemir Mesquita, explica que com o aumento da população, cresce também a violência aos rios e igarapés da cidade.

Um dos maiores estudiosos das bacias hidrográficas do Acre, o geógrafo afirmou que não há o que comemorar no dia Mundial da Água, “mas sim o que lamentar, pela falta de interesses dos órgãos que falam no Acre como o melhor lugar para se viver, e que pouco ou nada fazem para preservar nossas vertentes”.

- Eles não fazem o que é básico para se preservar a vida de nossas nascentes – acrescentou o professor.

Claudemir alerta que num futuro não muito distante, o Rio Acre seja impossibilitado de abastecer de água potável as populações urbana e rural. O que já tem acontecido na capital em anos em que as altas temperaturas e a forte evaporação provocaram estiagens de seis meses.

O presidente do Sindicato dos Urbanitários, Marcelo Jucá, quer saber o que vem sendo feito com mais de R$ 370 milhões destinados pelo PAC para o sistema de abastecimento e esgotos do Acre. Ele também criticou o que chama de maior problema do rio, “o despejo de esgotos compostos por inúmeros tipos de resíduos e que podem conter microrganismos patogênicos (causadores de doenças) eliminados pelas fezes humanas e de animais”.

Ainda segundo estudos do CNPq, esses dejetos contêm matéria orgânica em putrefação, que ocasiona mau cheiro, e grande quantidade de substâncias das mais variadas origens que podem ser tóxicas, corrosivas e causar doenças graves e alergias.

Uma séria ameaça à população de crianças do Colégio de Aplicação, representada no manifesto e ao futuro de milhares de acreanos. Ainda segundo o estudo, um único litro de esgoto despejado no rio polui pelo menos dois metros cúbicos de água, tornando dois mil litros desse precioso líquido impróprio para o consumo humano até que a natureza tenha conseguido eliminar tamanha sujeira.

Para piorar a situação, a pesquisa revela que pelo menos 3 em cada dez casas da cidade, está ligada a uma rede regular de esgotos, o que faz com que a maior parte dele acabe se infiltrando através de fossas e sumidouros dos quintais para contaminar com fezes e produtos químicos a água que ainda está guardada no subsolo da cidade.

Recentemente, vereadores da base de sustentação do prefeito Raimundo Angelim, negaram por maioria esmagadora de votos, a criação de uma CEI – Comissão Especial de Investigação, proposta pelo vereador Raimundo Vaz e que tinha como objetivo, investigar a omissão do município com relação aos dejetos que inundam o Rio Acre.

Procurados, os secretários de Meio Ambiente do Estado e da Prefeitura, estavam em eventos ligados ao Dia Mundial da Água.

Jairo Carioca – Da Redação de ac24horas

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